4. Esforço para não dividir a denominação. Quando cheguei na Amazônia, já havia igrejas evangélicas indígenas plantadas pela Missão Novas Tribos (MTNB) e por uma missionária norte americana que pregou evangelho nos rios e afluentes do Rio Negro. Vi que as igrejas brasileiras visitavam as igrejas indígenas nas comunidades para trabalhar em parceria e distribuir artigos de primeira necessidade, e as igrejas indígenas se filiavam à denominação dessas igrejas. Numa mesma comunidade, igrejas que compartilharam mesma liturgia e tradição por décadas passaram a se enfrentar, por vezes de maneira violenta, por causa de diferença de doutrinas e políticas eclesiásticas particulares de cada denominação. Lembrei da história da igreja da Coreia. No início da igreja coreana, depois que o evangelho foi pregado, missionários metodistas propuseram aos missionários presbiterianos a criar uma igreja do povo- igreja nacional- ao invés de dividir por denominações, e estes concordaram. Porém, o governo japonês descobriu o plano e pressionou para que as igrejas fossem divididas por denominação. Fiquei muito triste ao ver essas situações no campo missionário. É importante salvar muitas almas e levá-las a Deus. Porém, também aprendi que servir as igrejas locais e participar na sua unidade é também importante aos olhos de Deus e da história. Por esse motivo continuamente tentei convencer os missionários que atuavam na região e pastores das igrejas locais a formar uma Associação de Igrejas Bíblicas Unidas Indígenas para que só houvesse uma única igreja bíblica unida indígena ao invés de igrejas de diversas denominações. Não é da vontade de Deus as igrejas, da mesma etnia e/ou mesma comunidade, não viverem em harmonia por causa das doutrinas denominacionais. Muitos irão se afastar desiludidos da igreja ao verem as divisões nas igrejas. Por isso defendi a tese de que somente quando a igreja permanecer como uma igreja bíblica unida indígena, irá crescer de forma sadia e ao mesmo tempo a vontade de Deus será cumprida. Levou anos para convencer. Finalmente, no dia 5 de julho de 2001, reuniram-se os representantes da FUNAI, das missões locais e das igrejas indígenas, cerca de 100 pessoas, no Instituto Bíblico do Alto Rio Negro e aprovaram o Estatuto da Igreja Bíblica Unida Indígena do Alto Rio Negro e foi formalizado a Convenção Igreja Bíblica Unida Indígena do Alto Rio Negro. Toda glória entrego a Deus e agradeço aos missionários e líderes das igrejas locais que participaram. A nossa principal obra missionária é o IBARNE - Instituto Bíblico do Alto Rio Negro, fundado em 1997. O IBARNE é um instituto bíblico interdenominacional, onde jovens indígenas com chamado são convidados a passarem quatro anos estudando em regime de internato. O IBARNE trabalha em parceria com a CIBUIRN - Convenção Igreja Bíblica Unida Indígena do Alto Rio Negro, e os formados, após passar pelo crivo do conselho do CIBUIRN, são ordenados pastores e enviados ao campo missionário. O atendimento médico, iniciado em 1996, é também uma obra interdenominacional. Nas visitas às comunidades indígenas, em áreas remotas onde o atendimento médico público é precário por limitação geográfica, era comum receber convite para trocar a placa da igreja pela da Igreja Presbiteriana em sinal de gratidão pelo serviço médico prestado, convite este recusado. Tinha plena convicção de que quando Deus nos enviou para a vasta Amazônia como missionários, não foi para ampliar os horizontes do Presbiterianismo mas para ampliar o Reino de Deus e pregar Sua Palavra. Contudo como as igrejas que plantamos estão situadas na cidade, elas estão filiadas à Igreja Presbiteriana do Brasil. Sou grato a irmãos e igrejas, de diversas denominações, que confiaram e colaboraram nos métodos missionários aplicados que julguei ser necessários no campo missionário da Amazônia. As obras feitas por nós foram todas pela graça de Deus e oração e ajuda dos irmãos e igrejas.
Ao iniciar o ministério, passei muito tempo em oração e planejamento buscando as possibilidades de auxílio de colaboradores e recursos à minha disposição, e a situação do campo extremamente carente do evangelho. Tinha certeza de que as obras iniciadas após uma profunda e detalhada análise e oração eram as mais indispensáveis e didáticas. Mas não sabia que ela estava misturada com os meus limites, minha maldade e orgulho. Era ignorante em relação à justiça própria e soberba escondidos no subterrâneo do porão do meu coração. Isto porque dei mais importância e gastei mais tempo na obra do que o relacionamento meu com Deus. Muitas almas foram salvas via as obras que realizei, mas terminei na condição de pecador que enfrentou Deus.
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